Edições anteriores

 

 

 

 

Como citar esse artigo

 

Baixar o arquivo ou imprimir

 

O objeto direto anafórico em textos da web

 

Rerisson Cavalcante de Araújo

Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação
em Letras e Lingüística da UFBA

rerissonaraujo@yahoo.com.br

 

Resumo

Este trabalho analisa a variação no preenchimento do objeto direto anafórico no português brasileiro, tomando como corpus textos de diários virtuais publicados na Internet, blogs, através da metodologia da Teoria da Variação. Os resultados apontam para a importância de fatores estruturais como o traço semântico, o tempo verbal e a estrutura sintática da frase, mas revelam diferenças com relação à atuação dos fatores sociais em função do tipo de amostra.

Palavras-chave: objeto direto anafórico, sociolingüística, língua escrita, variação lingüística, português brasileiro, linguagem da internet.

 

Abstract

This paper analyses the variation in use of the anaphoric direct object in Brazilian Portuguese, in a corpus of blog texts, through sociolinguistic methodology. The results point to relevant structural factors as semantic trace, verb tense and syntactic structure, however it shows the difference related to social factors according to the sort of samples.

Key-words: anaphoric direct object, Sociolinguistic, written portuguese language, language variation, Brazilian Portuguese, web related language.

 

0 Introdução

 

Os estudos lingüísticos têm demonstrado a existência de diferenças sistemáticas entre o português brasileiro (PB) e o europeu (PE) em vários níveis de análise. Com relação à sintaxe, a realização do objeto direto anafórico[1] está entre os principais temas de investigação. Várias pesquisas têm apontado para um avançado processo de mudança no PB, com a substituição do pronome oblíquo (o, os, a, as), também denominado “clítico acusativo”, por outras estratégias de preenchimento do objeto, a saber, por uma categoria vazia de natureza pronominal[2] [cv], pelo pronome na forma nominativa (ele e suas flexões) ou mesmo pelo uso de sintagmas nominais plenos como estratégia de esquiva (DUARTE, 1986 e 1989).

        A presente pesquisa investiga a realização do objeto direto anafórico no PB e no PE em textos escritos, tomando por corpus textos veiculados na web, com o objetivo de caracterizar o fenômeno da variação na modalidade escrita do português e em um gênero textual específico que se tem expandido rapidamente nos últimos anos: os diários virtuais ou blogs da internet.

 

1. O objeto direto anafórico

 

1.1 A terceira pessoa

 

Os pronomes de 3ª pessoa apresentam uma diferença fundamental em relação aos de 1ª e 2ª. Enquanto estes se caracterizam por seu valor dêitico, ou seja, tomam referência a partir do sujeito da enunciação, tendo o valor fixo de pessoa que fala e pessoa com quem se fala, aqueles apresentam como característica específica um traço anafórico, no sentido de que não têm uma referência determinada, fixa, mas podem tomar como referente quaisquer seres presentes no contexto lingüístico ou pragmático da enunciação ou mesmo algum ser inferível no discurso. Ou seja, “enquanto eu e tu são sempre os participantes da comunicação, o ele designa qualquer ser ou não designa ser nenhum.” (FIORIN, 2004, p. 164).

 

Os estudos sobre o objeto direto anafórico abordam apenas os casos em que o pronome (nominativo, acusativo ou vazio) se encontra em relação de co-referência com outro SN mencionado anteriormente no discurso.

 

 

1.2 O trabalho de Duarte

 

Duarte (1987 e 1989), trabalhando principalmente com corpus de língua falada da cidade de São Paulo, identifica um processo de mudança lingüística em curso com relação à realização do objeto direto anafórico, com a substituição do clítico acusativo de 3ª pessoa (o/a/os/as) pela categoria vazia [cv] e, em menor escala, pelo pronome lexical na forma nominativa (ele[s]/ela[s]). De um total de 1.974 ocorrências, o clítico só representa 4,9% dos dados, conforme a tabela:

 

Tabela 1: Realização do objeto direto anafórico em Duarte (1987)

Variante

Ocorrências

%

Clítico

97

4,9

Pronome lexical

304

15,4

Categorial vazia

1235

62,6

SNs anafóricos

338

17,1

Total

1974

100,0

                        Fonte: Duarte (1989, p. 21), adaptado.

 

Note-se que o uso de SNs anafóricos não se constitui exatamente como uma variante lingüística, mas sim pode ser visto como um processo de esquiva diante da avaliação social da variação.

 

Com efeito, Duarte busca identificar os valores sociais adquiridos pelas variantes. Embora seja a forma conservadora e investida de prestígio pela tradição gramatical, o uso do clítico não tem boa aceitação social entre os informantes, por ser considerado “pedante”, sendo pouco apropriado para a fala natural e a conversação espontânea. Já o pronome lexical, que passa a ocupar “naturalmente” a função do clítico, sofre uma forte estigmatização social, ao ser identificado como característico de classes baixas, e é evitado. Diante desse quadro, desponta o uso da categoria vazia como estratégia neutra, não marcada socialmente. Entretanto, há também vários fatores de ordem estrutural que entram em jogo no uso das variantes.

Duarte identificou fatores morfológicos (tempo do verbo), sintáticos (estrutura da oração) e semânticos (traço humano / animado) como condicionantes da variação.

 

O clítico acusativo é favorecido por verbos no infinitivo e pelo traço semântico [+animado]. É fortemente desfavorecido pelo traço [-animado] e por SNs sentenciais, além do imperativo, dos tempos compostos e locuções com gerúndio.

 

O pronome lexical é favorecido por tempos simples, pelo imperativo e por locuções com infinitivo e gerúndio, por estruturas sintáticas complexas, em que o objeto é também o sujeito de uma mini-oração ou de uma subordinada de um verbo causal, em que o pronome é sujeito da oração subordinada, e pelo traço [+animado]. É desfavorecido por estruturas simples, em que a presença estigmatizada do pronome é mais perceptível, e pelo traço [-animado].

 

A categoria vazia está presente em grande número em todos os contextos, e supera as demais variantes em quase todos os tempos verbais, porém é mais favorecida pelas estruturas sintáticas simples e por objetos diretos sentenciais e pelo traço semântico [-animado]. O traço [+animado] e as estruturas complexas com dupla predicação desfavorecem o pronome nulo.

 

Em resumo, o traço [+animado] e estruturas sintáticas complexas em que o complemento direto é, na verdade, uma estrutura sentencial ou semi-sentencial (mini-oração) favorecem a realização fonética de um pronome, seja clítico ou lexical. Já os traços [-animado] e as estruturas simples favorecem o pronome nulo.

 

O trabalho de Duarte aponta também para a força de outras variáveis de natureza extralingüística na realização do objeto direto, como a escolaridade, a faixa etária e fatores estilísticos como o tipo de amostra (conversação espontânea, fala cuidada, textos escritos).

Na fala dos jovens na faixa dos 15 a 17 anos inexiste o clítico. O pronome lexical apresenta seu índice mais alto nessa mesma faixa e decresce à medida que a faixa etária aumenta. A categoria vazia, por outro lado, permanece estável em todas as faixas etárias e em todos os níveis de escolaridade. Ainda com relação à escolaridade, o uso do clítico só supera o do pronome lexical entre os informantes de nível superior.

 

2. Metodologia

 

A presente pesquisa segue os pressupostos metodológicos da Teoria da Variação, também denominada de Sociolingüística Quantitativa, conforme formulada por William Labov (MONTEIRO, 2000). Esse modelo teórico procura investigar processos de variação e de mudança lingüística em atuação em comunidades de fala, na atual sincronia, a partir da identificação de padrões de comportamento lingüístico ligados a grupos dentro da sociedade. Para tanto, busca relacionar a variação a elementos da estrutura social da comunidade.

 

Os principais fatores sociais identificados em trabalhos sociolingüísticos como relevantes para a caracterização da variação lingüística são: faixa etária, classe social ou escolaridade e sexo dos informantes. Além desses fatores, outros que podem influenciar a variação são: o tipo de elocução (mais formal ou mais informal) e o grau de exposição ou sensibilidade aos meios de comunicação.

 

Essa pesquisa tem por corpus textos escritos retirados de diários virtuais veiculados na rede mundial de computadores, denominados “blogs”. O corpus foi levantado por cinco alunos[3] da disciplina Aspectos da morfossintaxe no estudo das normas urbanas brasileiras, levando em consideração o sexo e a faixa etária dos autores, assim divididos:

 

JOVENS – entre 15 e 25 anos

INTERMEDIÁRIO – entre 25 e 35 anos

ADULTOS – acima de 35 anos

 

Em cada faixa etária, foram colhidos cinco textos de homens e cinco textos de mulheres, com 3 laudas cada, totalizando 30 “textos-inquéritos” divididos em seis células:

 

        i) faixa etária jovem, sexo masculino;

        ii) jovem, sexo feminino;

        iii) faixa etária  intermediária, sexo masculino;

        iv) faixa etária  intermediária, sexo feminino;

        v) faixa etária  adulta, sexo mascunino;

        vi) faixa etária  adulta, sexo feminino.

 

Foram levantados também textos de blogs de Portugal, apenas da faixa intermediária, com vistas a uma comparação das duas variedades nacionais da língua portuguesa, o que acrescenta mais duas células ao corpus:

 

        vii) faixa etária intermediária, sexo masculino, nacionalidade portuguesa;

        vii) faixa etária  intermediária, sexo feminino, nacionalidade portuguesa.

 

Após a constituição do corpus, efetuou-se um levantamento exaustivo de todas as ocorrências de objetos diretos co-referentes a um SN mencionado anteriormente no discurso. Estão excluídos automaticamente do corpus os casos de uso de pronome (realizado ou nulo) que não retomam um item referido antes, mas que tenham interpretação arbitrária como (1) ou constituam elemento recuperável pelo contexto pragmático, embora não dito, como (2).

 

(1)     Estou rouca pois cantei [Ø] horrores. {interpretação arbitrária}

(2)     Apaguei uns posts aí e não achei pra por de novo. ta (sic) muito bagunçado o meu arquivo de imagens, mas eu resolvo [Ø]. {Ø = o problema}

 

Não foram considerados para efeito da pesquisa os casos de SNs anafóricos como (3), nem os casos em que o objeto retoma uma sentença completa, como (4), uma vez que esse contexto tem se mostrado categórico para a realização da categoria vazia. Também estão excluídos as frases feitas e demais lexias cristalizadas como (5), que funcionam antes como uma entrada lexical específica do que como uma estrutura sentencial.

 

(3)     Então o meu filho ficou morando no apartamento, mas ele reclamava muito do barulho, e a gente foi na onda dele de vender esse apartamento. (exemplo de DUARTE, 1989, p. 20)

(4)     Mas, dessa vez eu me descontrolei, acho [Ø].

(5)     ... e quando eu desisti de lutar e entreguei [Ø] nas mãos do Pai.

 

Em seguida, efetuou-se uma codificação de todas as sentenças levantadas de acordo com os seguintes fatores lingüísticos e sociais:

 

Fatores lingüísticos

(i) Tempo do verbo;

(ii) estrutura sintática;

(iii) traço semântico / animacidade;

(iv) paralelismo formal / forma da menção anterior (apenas na oração imediatamente anterior e em função de objeto direto);

 

Fatores sociais

(v) faixa etária

(vi) sexo

(vii) variedade nacional

 

Os dados foram, então, submetidos, à análise quantitativa do pacote de programas Varbrul.

 

3. Resultados

 

A análise dos dados indica, primeiramente, uma diferença nítida entre a língua falada e a escrita. O clítico acusativo, que aparece em percentuais mínimos, em torno de 5%, em corpus orais, alcança nesse corpus 42% do total de ocorrências do objeto direto anafórico, conforme mostra a tabela 2:

 

Tabela 2: Realização do objeto direto anafórico no corpus

Variante

Ocorrências

%

Categorial vazia

82

51

Clítico

68

42

Pronome lexical

12

7

Total

162

100

 

 

Isso nos remete a duas características específicas do corpus trabalhado. Além de o texto escrito ser, em geral, mais conservador e apresentar características mais próximas da variante padrão da língua do que o texto oral, os autores de textos virtuais são, em linhas gerais, pessoas pertencentes a classes mais elevadas no nível social. Embora não se possa definir com precisão a classe social ou mesmo escolaridade dos autores dos textos, está claro que não pertencem às classes mais baixas ou de menos escolaridade e que, ao mesmo tempo, têm uma maior exposição à mídia e aos meios de comunicação de massa, fatores que têm algum tipo de influência sobre a produção lingüística.

 

3.1 Variedade nacional

 

A primeira rodada do VARBRUL confirmou o que se espera normalmente para uma análise do objeto direto nas duas variedades da língua portuguesa: o pronome lexical ocorre exclusivamente no PB. No PE co-existem apenas o pronome clítico e a categoria vazia que, devido ao pequeno número de dados (12 ocorrências), apresentam percentuais bastante próximos. São 58% de clíticos contra 42% da categoria vazia de um total de 12 dados – 7 e 5 sentenças respectivamente.

 

A inexistência do pronome lexical em função de objeto é, portanto, categórica no corpus e, junto com o que se sabe sobre o PE, constitui um fator de (a)gramaticalidade no sistema do PE: o pronome lexical em função de complemento direto é agramatical (ou não é licenciado) no português europeu.

Já nos dados do PB, a distribuição das ocorrências é, em conseqüência do pouco número de dados referentes ao PE, bem parecida com a distribuição geral, conforme tabela 3:

 

Tabela 3: Objeto direto anafórico no PB e no corpus geral

Variante

Geral

PB

 

Ocorrências

%

Ocorrências

%

Categorial vazia

82

51

77

51

Clítico

68

42

61

41

Pronome lexical

12

7

12

8

Total

162

100

150

100

 

        

3.2 Nível discursivo / paralelismo formal

 

Esse fator tem como objetivo verificar se a forma anterior do SN antecedente influencia na realização do objeto direto anafórico. Os casos foram codificados de acordo com a forma em que se encontrava o antecedente: clítico, pronome lexical, categoria vazia ou mesmo SN pleno.

 

A variável foi analisada apenas nos casos em que a referência anterior se encontrava na oração imediatamente anterior àquela em que ocorria o pronome e apenas quando o referente se encontrava na função de objeto direto, por ser a única função em que podem ocorrer as três variáveis em jogo (clítico, categoria vazia e pronome lexical). Assim, do total de 162 realizações do objeto, apenas em 56 a variável em questão se aplicava.

 

A hipótese foi confirmada no corpus parcialmente. Quando o antecedente se realiza como um SN ou uma categoria vazia, o pronome lexical é desfavorecido.  A ocorrência em ambos os casos é zero, o que levou a knockout no programa, levando à exclusão desse grupo de fatores da análise dos pesos relativos. Entretanto, ambos os contextos (antecedente como SN ou como pronome nulo) favorecem a categoria vazia e desfavorecem o clítico.

 

Semelhantemente, o antecedente na forma de um clítico favorece a realização clítica, que conta com 70% de casos contra 20% de categoria vazia e apenas 10% de pronome lexical. Os dados, contudo, insuficientes para uma afirmação conclusiva. Pode-se notar, porém, que, de modo geral, o antecedente tanto em sua forma “normal” de SN quanto como categoria vazia favorece o pronome nulo e desfavorece pronomes foneticamente realizados. Pelo contrário, o antecedente como clítico favorece os pronomes com matriz fonética (seja clítico ou nominativo) e desfavorece a [cv]. Confirma-se, então, a hipótese do paralelismo formal: pro leva a pro e [cv] a [cv].

 

Tabela 4: Paralelismo formal / forma referência do antecedente

Antecedente

 

Variante

SN

Clítico

Pronome lexical

[cv]

Categorial vazia

81% (26)

20% (2)

--

86% (12)

Clítico

19% (6)

70% (7)

--

14% (2)

Pronome lexical

0% (0)

10% (1)

--

0% (0)

Total

100% (32)

100% (10)

--

100

 

 

3.3 Traço semântico do referente

 

O traço semântico foi selecionado pelo Varbrul como fator mais relevante para a realização das três variantes do objeto direto anafórico, com nível de significância de .000 para as três formas.

 

O traço [-humano][4] favorece a categoria vazia e o [+humano] favorece, de um modo geral, a realização fonética de um pronome, seja clítico ou lexical, embora o peso relativo mostre que é bem mais importante para o pronome lexical, conforme a tabela 5. (Note-se que, para o peso relativo, em virtude de se tratar de um fenômeno com três variantes, favorece a realização aquele fator que apresentar peso superior a .333)

 

Tabela 4: Traço semântico [±humano] (nível de significância .000)

Traço semântico [+humano]

Traço semântico [-humano]

Variante

Ocorrências

%

Peso relativo

Variante

Ocorrências

%

Peso relativo

Pron. lexical

9

17%

.674

[cv]

77

70%

.751

Clítico

38

73%

.263

Clítico

30

27%

.179

[cv]

5

10%

.063

Pron. lexical

3

3%

.070

Total

52

100%

---

Total

110

100%

 

 

O traço [+humano] favorece, sensivelmente, um pronome foneticamente realizado. As ocorrências de pronome lexical e de clítico somam 90% dos casos de objetos com tal traço semântico. O pronome lexical, no entanto, é a variante que está relacionada de modo mais direto a esse fator, com o peso relativo de .674, em muito superior ao do clítico, com apenas .263 e, mais ainda, da categoria vazia, que, com peso relativo de .063, tem no traço [+humano] um forte fator de restrição.

 

Conseqüentemente, com relação ao traço [-humano], a tabela se inverte. A categoria vazia soma 70% de ocorrências com esse fator e alcança um peso relativo de .751. O clítico e, principalmente, o pronome lexical são totalmente desfavorecidos, conforme mostram os pesos relativos de .179 e .070 respectivamente.

 

3.4 Estrutura sintática

 

A estrutura sintática da sentença é uma outra variável que tem se mostrado relevante nas pesquisas desenvolvidas sobre o objeto direto anafórico. Esse grupo de fatores foi selecionado como o segundo mais relevante na realização da categoria vazia e do pronome lexical e como o terceiro mais importante em relação ao clítico.

 

Com relação a esse grupo, as sentenças foram codificadas como:

 

a) estrutura simples: verbo mais objeto direto apenas.

        V + OD (SN)

                   Cheguei no trabalho e contei Ø.

 

b) estrutura complexa: verbo mais objeto direto mais objeto direto ou complemento circunstancial ou adjunto adverbial

        V + OD + OI (SN) ou CIRC ou ADV

Tomou-a por oito meses e até hoje ainda manca e sente dor nos pés...

            Mozinho quem preparou Ø pra mim.

 

c) estrutura complexa com predicação nominal: verbo mais uma mini-oração

        V + OD (SN + ADJ / SN / SP)

Tão distraído e fútil é o ser humano, que somente a doença tem o poder de forçá-lo à contemplação.

Entao ela jah chegou com ela na mao pq a vontade era tanta de tomar o morango com champagne que uma garrafinha soh de 500ml nao ia dar pra deixá-la satisfeita.

 

d) estrutura complexa com predicação verbal: verbo causativo mais oração subordinada infinitiva, em que o complemento é, na verdade, toda a oração e o pronome é sujeito do verbo encaixado, recebendo caso nominativo. Há de se notar, entretanto, que na variedade culta o pronome recebe caso acusativo, como um fenômeno de Marcação Excepcional de Caso (EMC). O pronome fica, assim, “dividido” entre duas funções sintáticas distintas, a função de complemento do verbo principal e a de sujeito do verbo subordinado.

                   ... senão eu deixava ele escolher...

 

 

3.4.1 Estruturas complexas com predicação

 

As estruturas complexas com predicação sobre o pronome, seja predicação de natureza verbal ou mini-oração, desfavorecem o uso da categoria vazia no corpus estudado. Com efeito, o mesmo não ocorre com essas duas estruturas, que favorecem as outras variantes, a saber, os pronomes de matriz fonológica. Tal resultado está em conformidade com os de outros estudos e confirma a hipótese de que a força do caso nominativo age decididamente na realização do pronome, uma vez que o PB está assumindo, paulatinamente, um valor negativo para o Parâmetro do Sujeito Nulo.

Os resultados não favorecem, entretanto, os pronomes plenos de modo simétrico. Apesar dos poucos dados (6 ocorrências de predicação nominal e 7 de verbal), os resultados parecem apontar para um favorecimento do clítico por parte da predicação nominal, pois este ocorre em 100% dos casos da estrutura.

 

Por outro lado, a predicação verbal favorece o pronome lexical, que ocorre com o percentual de 86%, embora também haja casos de uso do clítico, com 14%.

 

A tendência de a predicação verbal fortalecer o pronome lexical está em conformidade com as características dessa estrutura, uma vez que é na construção verbal que há, de fato, a possibilidade de atribuição do caso nominativo ao sujeito da predicação[5], favorecendo o pronome com traço nominativo e restringindo a EMC.

 

Contudo, mesmo que a predicação nominal não possua o caso nominativo para atribuir, deixando o seu sujeito mais acessível à ação da EMC, permanece curioso o favorecimento do clítico, que constitui a variável conservadora, mas ainda assim rejeitada socialmente. A resposta pode estar no caráter específico de algumas predicações nominais, que parecem ter um tom ligeiramente mais rebuscado ou “cuidado”, devido, em parte, ao tipo de item lexical verbal que entra em jogo em tais construções, como os verbos considerar, julgar.

 

Uma vez que a categoria vazia não ocorre nessas duas estruturas e também o pronome lexical não ocorre com a predicação nominal, houve knockout no programa com relação a esses dois fatores, que foram excluídos do levantamento dos pesos relativos.

 

3.4.2 Outras estruturas sintáticas

 

Para o levantamento dos pesos relativos, foram considerados apenas dois tipos de estruturas sintáticas: uma estrutura simples, apenas como verbo e complemento (SVO); e uma estrutura de um nível intermediário de complexidade, com a presença de mais um outro elemento / constituinte no predicado. Essa segunda estrutura engloba construções com complemento indireto, complemento obliquo, circunstancial ou mesmo um item adverbial[6].

 

 

Tabela 5: Estrutura sintática

Estrutura simples

Estrutura complexa

Variante

Ocorrências

%

Peso relativo

Variante

Ocorrências

%

Peso relativo

[cv]

58

64%

.536

Pron. lexical

5

8%

.539

Clítico

31

34%

.300

Clítico

30

51%

.295

Pron. lexical

1

1%

.164

[cv]

24

41%

.165

Total

90

100%

---

Total

110

100%

---

 

 

A estrutura simples favorece a categoria vazia, que ocorre em 64% dos casos desse tipo de construção. Como se pode observar na tabela 5, esse fator influencia fortemente a realização nula do pronome, como peso relativo igual a .536. O pronome lexical é, por outro lado, desfavorecido em estruturas simples, com peso relativo de .164.

 

Para as estruturas complexas, a situação se altera: o pronome lexical encontra nesse tipo de estrutura um contexto altamente propício, com peso relativo de .539. Dessa vez, é a categoria vazia sofre fortes restrições nesse contexto, como mostra o peso relativo de apenas .165.

 

O favorecimento do pronome lexical em estruturas complexas parece ser explicável em função da pressão que se estabelece entre a sua força enquanto variante inovadora e o valor estigmatizado que recebe por fatores socioculturais. O falante, dessa forma, mesmo sofrendo pressões de natureza lingüística para a realização inovadora, busca evitar o pronome nominativo pela carga de preconceito que carrega, surgindo então a categoria vazia como estratégia neutra. Em estruturas de maior complexidade sintática, porém, o pronome lexical é menos perceptível ao falante no monitoramento da própria produção.

 

Com relação ao clítico, os valores dos pesos relativos em relação às duas estruturas, que se mantêm logo abaixo da média, mostram que o mesmo não tem em nenhuma das estruturas um fator condicionante decisivo, embora se possa dizer que, de maneira ampla, as estruturas complexas favorecem um pronome realizado em oposição a um nulo, já que a porcentagem de clíticos sobe de 34% para 51% em estruturas complexas, formando com o pronome lexical um total de 59% dos casos.

 

3.5 Tempo verbal

 

A análise da influência do tempo / forma do verbo se centrou nos casos em que o pronome ocorre com o infinitivo, o gerúndio e o presente e o pretérito perfeito do indicativo, em decorrência das poucas ocorrências com outros tempos, que levaram o programa a vários knockouts.

 

Esse grupo de fatores foi selecionado pelo Varbrul como o segundo mais importante na realização do clítico (com nível de significância .000) e como o terceiro grupo mais importante para a categoria vazia (significância .000). Não foi, contudo, selecionado para o pronome lexical.

 

O verbo no infinitivo apresenta forte correlação com o uso do clítico, que alcança 56%, enquanto desfavorece as demais variantes, em especial o pronome lexical. Como se pode ver na tabela 6, o peso relativo para o clítico com o verbo no infinitivo é de .515 contra .293 e .192 para a categoria vazia e o pronome lexical, respectivamente. Como também já apontado por Duarte (1989, p. 21), o favorecimento do clítico parece estar ligado à forma que esse assume quando em ênclise a um verbo no infinitivo (-lo e suas flexões), que fortalece o clítico do ponto de vista fonológico, ao transformá-lo em uma sílaba de padrão CV (consoante-vogal).

O pretérito perfeito do indicativo, porém, favorece bastante a categoria vazia e desfavorece o clítico. A categoria vazia alcança 82% com esse tempo, seu mais alto índice de realização, e apresenta peso relativo de .542, contra .142 do clítico.

 

Tabela 6: Tempo verbal: infinitivo e pretérito perfeito

Infinitivo

Pretérito Perfeito

Variante

Ocorrências

%

Peso relativo

Variante

Ocorrências

%

Peso relativo

Clítico

40

56%

.515

[cv]

32

82%

.542

[cv]

27

38%

.293

Pron. lexical

2

5%

.316

Pron. lexical

4

6%

.192

Clítico

5

13%

.142

Total

71

100%

---

Total

39

100%

---

 

 

O presente do indicativo parece favorecer tanto a ocorrência do clítico quanto a da categoria vazia, embora o valor do peso relativo referente à categoria vazia esteja bem próximo da média, conforme mostra a tabela 7. O pronome lexical é mais uma vez desfavorecido.

 

Apenas o gerúndio parece indicar um favorecimento do pronome lexical em detrimentos das demais variáveis. A forma nominativa apresenta peso relativo de .524 contra .317 do clítico e .159 da categoria vazia. Entretanto, tal resultado deve ser relativizado, pois há apenas 5 ocorrências de objeto direto com gerúndio, distribuídas de modo equilibrado pelas variantes, como se pode ver na tabela 7: um caso de pronome lexical e dois casos de clítico e dois de categoria vazia. Importante também é lembrar que tempo verbal foi descartado pelo Varbrul do conjunto de grupos de fatores que têm influência forte na realização do pronome lexical.

 

 

Tabela 7: Tempo verbal: presente e gerúndio

Presente

Gerúndio

Variante

Ocorrências

%

Peso relativo

Variante

Ocorrências

%

Peso relativo

Clítico

15

45%

.378

Pron. lexical

1

20

.524

[cv]

16

48%

.346

Clítico

2

40

.317

Pron. lexical

2

6%

.276

[cv]

2

40

.159

Total

33

100%

---

Total

5

100%

---

 

 

3.6 Sexo

 

O fator sexo foi selecionado pelo Varbrul como relevante apenas para o pronome lexical, com relação ao qual aparece como terceiro fator mais relevante e com nível de significância de .018. Como se pode ver pela tabela 8, a variante é favorecida pelo o sexo masculino e desfavorecida pelo feminino.

 

O sexo masculino aparece como forte condicionador do pronome lexical, com peso relativo de .604, enquanto desfavorece tanto o clítico quanto a categoria vazia, com pesos relativos de .202 e .194.

 

A situação se inverte em relação ao sexo feminino, que favorece tanto a ocorrência da categoria vazia, como peso de .439, quanto a do clítico, com .420. Note-se que, com relação à freqüência, ambas as variantes empatam com um total de 49% das 78 ocorrências. O pronome lexical é, por outro lado, desfavorecido, como peso de apenas .141.

 

Tabela 8: Sexo

Masculino

Feminino

Variante

Ocorrências

%

Peso relativo

Variante

Ocorrências

%

Peso relativo

Pron. lexical

10

12%

.604

[cv]

38

49%

.439

Clítico

30

36%

.202

Clítico

38

49%

.420

[cv]

44

52%

.194

Pron. lexical

2

3%

.141

Total

84

100%

---

Total

78

100%

---

 

 

Com relação aos fatores estruturais, o clítico forma com o pronome lexical um conjunto de variantes com propriedades semelhantes que se opõem à categoria vazia, por se tratarem de pronomes foneticamente realizados contra um pronome nulo. Dessa forma, vários foram os fatores que favoreciam ou desfavoreciam ao mesmo tempo os dois pronomes contra o objeto nulo.

 

No plano da variação social, a situação se altera. O clítico passa a formar agora um conjunto com a categoria vazia em função do valor social que duas variantes recebem: são ambas formas de prestígio[7] e / ou neutras em relação ao pronome lexical estigmatizado.

 

Dessa forma, os resultados do grupo de fatores sexo está em conformidade com o que tem apontado alguns trabalhos de sociolingüística, que mostram que as mulheres, nas sociedades ocidentais complexas, tendem a estar mais atentas para as formas de prestígio do que os homens.

 

No corpus, o sexo feminino apresenta-se correlacionado semelhantemente com a variante conservadora e de prestígio, o clítico, e com a variante inovadora mas socialmente neutra, a categoria vazia. O sexo masculino, de forma diametralmente oposta, está correlacionado com a variante inovadora e desprestigiada, o pronome lexical.

 

De acordo com os resultados do Varbrul, o grupo de fatores sexo só influencia de modo significativo a ocorrência do pronome lexical, não sendo determinante para a ocorrência das outras variantes, que têm como fatores preponderantes o traço semântico, a estrutura sintática e o tempo do verbo.

 

4. Conclusão

 

A análise quantitativa aponta como principais fatores condicionantes da variação na realização do objeto direto anafórico o traço semântico, a estrutura sintática e o tempo verbal. Em menor escala, aparecem a forma do antecedente e o fator social sexo.

 

A categoria vazia é a variante mais freqüente no corpus estudado, com um total de ocorrência igual a 51%. A variante é favorecida pelo traço semântico [-humano], por estruturas sintáticas simples e pelo pretérito perfeito do indicativo. Também tem influência em sua realização o antecedente na forma de um sintagma nominal ou de uma categoria vazia. No plano extralingüístico, o sexo feminino aparece com uma pequena tendência à realização da categoria vazia.

 

Desfavorecem, contudo, a variante o traço [+humano], as estruturas sintáticas complexas, principalmente as com predicação sobre o objeto e o verbo no infinitivo e no gerúndio.

 

O clítico é a segunda variante mais freqüente, com um percentual de 42% no corpus, sendo favorecido pelo traço [+humano], pelo verbo no infinitivo e no presente e pelas estruturas sintáticas com predicação nominal (mini-oração). Também é favorecido pelo antecedente na forma de um clítico e pelo sexo feminino.

 

Desfavorecem o clítico o traço [-humano], o verbo no pretérito perfeito do indicativo e as estruturas sintáticas simples e com predicação verbal sobre o objeto e o sexo masculino.

 

O pronome lexical tem o índice reduzido de apenas 7% no corpus, entretanto, apresenta contextos específicos de favorecimento. Estão correlacionados com essa variante o traço [+humano] do objeto, as estruturas sintáticas complexas com complemento preposicionado ou adverbial e com predicação verbal, além do sexo masculino.

 

Desfavorecem o pronome lexical o traço [-humano], as estruturas sintáticas simples e o sexo feminino, além do verbo no infinito.

 

Parece importante notar que, no aspecto estrutural, o clítico e o pronome lexical se aproximam como pronomes realizados em concorrência com um pronome nulo, compartilhando assim comportamentos semelhantes com relação a fatores lingüísticos como traço semântico e estrutura sintática. O comportamento destoante com relação ao tempo verbal parece ser decorrente da natureza mais fonológica envolvida no favorecimento do clítico por parte do verbo infinitivo.

 

No aspecto extralingüístico, diferentemente, o clítico e o pronome lexical têm status diferentes e até opostos, em virtude da avaliação social das variantes e do tratamento que a tradição gramatical lhes dispensa. O clítico se aproxima, então, da categoria vazia, com o qual forma um conjunto de variantes não estigmatizadas, que ganham mais força no texto escrito, em que o “desprestígio[8] oculto” do clítico é reduzido. Isso explica o comportamento semelhante que as duas variantes, estruturalmente opostas, apresentam com relação ao fator sexo, que não poucas vezes reflete o modo como a sociedade avalia um fenômeno lingüístico em variação.

        A faixa etária não foi, contudo, considerada pelo Varbrul como um fator relevante para a realização do objeto direto anafórico. No entanto, pretende-se dar prosseguimento à pesquisa com esse corpus, procurando, inclusive, investigar melhor a atuação desse fator.

 

 

Referências

 

DUARTE, Maria Eugênia Lamoglia. (1986). Variação e sintaxe: clítico acusativo, pronome lexical e categoria vazia no português do Brasil. São Paulo: PUC-SP, Dissertação de Mestrado.

DUARTE, Maria Eugênia Lamoglia. (1989). Clítico acusativo, pronome lexical e categoria vazia no português do Brasil. IN: TARALLO, Fernando. (org). Fotografias sociolingüísticas. Campinas (SP): Pontes / UNICAMP. (Coleção linguagem-crítica).

FIORIN, José Luiz. Pragmática. (2004). IN: ____. (org). Introdução à Lingüística II: Princípios de análise. 3ª ed. São Paulo: Contexto.

LUCCHESI, Dante. (1998). Sistema, mudança e linguagem: um percurso da Lingüística neste século. Lisboa: Colibrim. (Estudos lingüísticos).

MOLLICA, Maria Cecília; BRAGA, Maria Luiza. (orgs). (2003). Introdução à sociolingüística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto.

MONTEIRO, José Lemos. (2000). Para compreender Labov. Petrópolis, RJ: Vozes.


 

[1] O uso do adjetivo anafórico é genérico e difere do emprego que recebe no âmbito da Gramática Gerativa, na qual designa os pronomes reflexivos e recíprocos, que tomam obrigatoriamente como referente um antecedente em uma posição argumental na mesma sentença finita e em relação de c-comando. O termo aqui se refere a um item pronominal que tem como antecedente algum elemento mencionado no discurso, em oposição a elementos inferíveis ou contextuais.

[2] O estatuto da categoria vazia para o objeto direto no português ainda é motivo de discussão, com relação ao seu valor de pronome ou de variável. (Cyrino, 1997)

[3] Elisângela Mendes, Lucinda Hora, Rerisson Cavalcante de Araújo, Vanessa Ponte e Vivian Antonino.

[4] Optou-se, de início, por trabalhar com três traços semânticos identificados com os três níveis de animacidade possíveis, a saber, [-animado], [+animado] e [+humano]. Entretanto, os poucos casos de objetos diretos anafóricos [+animados] tornaram necessário o agrupamento dos traços [+ e –animado] em uma categoria maior, denominada [-humano].

[5] A EMC é atribuída, segundo se sabe, quando se tem um infinitivo impessoal, em que não há a flexão para atribuir caso nominativo. Apenas o infinitivo flexionado / pessoal pode atribuir o caso ao seu sujeito.

[6] Na primeira rodada do Varbrul, os predicados compostos objeto direto + objeto indireto por um lado e por objeto direto + circunstancial ou adverbial por outro, foram classificados e codificados como estruturas diferentes. Entretanto, foi necessário agrupar os dois fatores, pois só foram encontradas duas ocorrências da estrutura OD + OI, ambas com a categora vazia, o que gerou knockout no programa.

[7] Deve-se reconhecer que o pronome oblíquo ainda se apresenta como forma de prestígio, em virtude da tradição gramatical, principalmente entre os estratos mais altos e / ou mais escolarizados da sociedade, embora também seja considerado, por outro lado, uma forma pedante para a fala. Em se tratando de texto escrito, esse último sentimento com relação ao clítico é, possivelmente, minimizado.

[8] O conceito de prestígio oculto serve para caracterizar situações em que uma variante estigmatizada socialmente pela tradição gramatical e / ou pela comunidade em geral assume um valor de prestígio em algum grupo, como modo de identificação social. O essencial no conceito é a inversão do valor social da variante: estigmatizada e,a o mesmo tempo, mais aceita.

Poder-se-ia dizer que o clítico apresenta uma situação inversa, no sentido de que é uma variante ao mesmo tempo prestigiada e inadequada (ou menos aceita) para o uso (“des-prestígio” oculto).

 

 

COMO CITAR ESSE ARTIGO

ARAÚJO, Rerisson Cavalcante. O objeto direto anafórico em textos da web. In: Revista Inventário. 4. ed., jul/2005. Disponível no web world wide em: http://www.inventario.ufba.br/04/04rcavalcante.htm.

 
 

 

 



Os conceitos emitidos em artigos e resenhas assinados são de absoluta e exclusiva responsabilidade de seus autores.
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta revista poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados, sem permissão por escrito do Conselho Executivo e dos autores dos artigos e/ou resenhas.