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Micro-prosódia segmental e estrutura silábica: o caso das oclusivas – dados preliminares

Vera Pacheco (PPGL-IEL/Unicamp)

Resumo: a duração consonantal pode estar condicionada à sua posição na estrutura silábica, evidenciando estreita relação com a micro-prosódia. Diante disso, investigou-se a duração de vogais e oclusivas em sílaba aberta e fechada. Os resultados encontrados mostram que a duração das oclusivas está diretamente ligada a estrutura silábica.

Palavras-chave: duração segmental, estrutura silábica, micro-prosódia.

Abstract: the consonantal duration can be conditioned as for its position into the syllabic structure evidencing narrow relationship with the micro-prosody. We investigated the duration of vowels and plosives in open and closed syllable. We founded that the duration of the plosives is directly associated with the syllabic structure.

Key-words: The segment duration, syllabic structure, mycro-prosody.

INTRODUÇÃO

Durante muito tempo a grande preocupação dos lingüistas foi depreender os sons de uma língua que tivessem, segundo Saussure, “oposição psíquica das impressões acústicas” (1970, p. 43), ou, em termos estruturalistas, que tivessem caráter distintivo (fonema).

A grande atenção dispensada aos fonemas levou a fonologia estruturalista a não investigar as durações das sílabas ou dos segmentos, a não ser nos casos em que se podia estabelecer uma oposição sistemática, como no latim (CAALGIARI & MASSINI; CAGLIARI, 1998).

Somente com pesquisas recentes, dentro da perspectiva não linear, por exemplo, é que as características prosódicas e supra-segmentais, como a duração, passaram a ser vistas como unidades e processos constitutivos dos sistemas fonológicos da língua (LIBERMAN & PRINCE, 1977).

Sob o ponto de vista fonético, FOWLER (1981) defende que os segmentos são produzidos de forma integrada e sofrem influência de segmentos adjacentes. Os primeiros lingüistas, segundo WISSING (1992), a detectarem que a duração vocálica, no inglês, era influenciada pelo contexto consonantal foram HOUSE & FAIRBANKS (1953).

HOUSE & FAIRBANKS (1953) realizaram uma investigação acústica das vogais do inglês e mostraram que a vogal que antecede a consoante de fim de palavra podia ser mais longa ou mais curta, a depender da consoante adjacente. Esses autores detectaram que a duração vocálica sofre influência tanto do vozeamento, quanto do modo e do ponto de articulação das consoantes adjacentes as vogais. O vozeamento consonantal é um fator que tem grande influência na duração vocálica, de sorte que todas as vogais são sistematicamente mais longas quando seguidas de consoante sonora e mais curtas quando sucedidas de surda. Esses resultados obtidos por HOUSE & FAIRBANKS (1953) encontram-se amplamente corroborados na literatura (PETERSON & LEHISTE, 1960) e evidenciam fortemente que informações fonéticas, como a duração vocálica, constituem parâmetro importante em uma caracterização fonológica, como é o caso do vozeamento consonantal do inglês. Muito embora a duração vocálica por si só não seja distintiva no vozeamento consonantal para o Inglês, e por isso sem importância, como propunham os estruturalistas, o maior ou menor alongamento da vogal não é arbitrário, pelo contrário, está condicionado a uma informação fonológica, e por isso, importante para o sistema.

Esse fenômeno vocálico foi encontrado também para outras línguas como o Alemão, Coreano, Francês, Holandês, Italiano, Japonês, Norueguês, Tamil, Russo, etc., não tendo sido detectado para a língua árabe (WISSING, 1992). Nota-se, portanto, que há, entre as línguas naturais, uma certa tendência em alongar a vogal quando seguida de consoante sonora, reforçando a hipótese levantada da não arbitrariedade do alongamento vocálico. Ao que tudo indica, esse processo, a princípio fonético, tem também importância fonológica para as línguas em geral.

Se por um lado pesquisas têm mostrado que o alongamento vocálico é condicionado fonologicamente, por outro, há evidências também da redução vocálica em certos contextos. LEHISTE (1970), LINDBLOM & RAPP (1973) e SATO (1978) detectaram para as línguas inglesa, sueca e japonesa, respectivamente, a redução vocálica quando seguidas por consoantes, quando comparadas com os contextos em que não são seguidas por consoante. Assim, quando segmentos são adicionados à silaba, a vogal que é geralmente o segmento mais longo, tende a sofrer uma redução para compensar os outros segmentos adicionados. Esse fenômeno foi denominado por KLATT (1976) como “redução compensatória”.

Para FOWLER (1981) a redução vocálica está intrinsecamente relacionada ao processo de coarticulação, entendida como a realização gestual de uma sobreposição consonantal ou vocálica sobre os segmentos adjacentes e, aparentemente, sem condicionamento fonológico.

Ao estabelecer, dentro da Fonologia não-linear ou Fonologia CV, a natureza monofonêmica ( v ) ) ou bifonêmica (V+N) da nasalidade contrastiva no PB, MORAES & WETZELS (1992) encontram que as vogais nasais [1] tônicas e pré-tônicas apresentam em média duração mais longa que as vogais nasalizadas e orais correspondentes. Em contrapartida, a oclusiva subseqüente a vogal nasal é mais breve que a oclusiva subseqüente a vogal oral, de maneira que os segmentos vogal nasal + oclusiva e vogal oral + oclusiva apresentam a mesma duração. Contudo, esses autores não encontram o mesmo resultado para as fricativas. Assim, a vogal nasal que antecede uma fricativa não é mais longa que a oral correspondente e não há um encurtamento da consoante subseqüente, como acontece com as oclusivas.

Os resultados encontrados por MORAES & WETZELS (1992) apontam para um comportamento duracional distinto entre oclusivas e fricativas em ambiente nasal. Diante disso, a pergunta que se faz é: o encurtamento da oclusiva é simplesmente decorrente da proximidade da nasal, ou estamos diante de um fenômeno de micro-prosódia, em que as oclusivas tendem a se tornar mais curtas quando precedidas de sílabas travadas, como acontece com as vogais de outras línguas do mundo, evidenciando uma característica microprosódica associada à estrutura silábica?

Buscando lançar um pouco de luz sobre a questão supra citada, propõe-se uma investigação acústica das oclusivas quando seguidas de sílabas abertas e de sílabas travadas por consoante. Pretende-se encontrar dados que clarifiquem os resultados de MORAES & WETZELS (1992) com respeito ao encurtamento da oclusiva de forma a contribuir, mesmo que indiretamente, na discussão sobre a natureza mono ou bifonêmica das vogais nasais.

CORPUS E MÉTODO

Montagem do corpus

Como o objetivo deste trabalho é o de investigar a duração das oclusivas quando precedidas por sílabas travadas por consoante, foi montado um corpus de dissílabos com a estrutura CVC. CV, com a vogal /a/ ocupando o núcleo das duas sílabas como no trabalho de MORAES & WETZELS (1992).

Para ocupar a posição de consoante “trava”, levou-se em conta somente as consoantes /N/ /R/ e /S/. Foram descartados os glides como elemento travador de sílaba, por conta da grande discussão sobre a natureza vocálica ou consonantal desses segmentos, e, em virtude disso, se eles ocupam o núcleo silábico como as vogais ou não. Em conseqüência dessa dúvida com relação aos glides, foram descartadas, também, as sílabas travadas pela lateral /l/, já que essa consoante, em vários dialetos do português, sofre vocalização, formando um ditongo com a vogal adjacente, caindo no mesmo caso que os glides (CÂMARA, 1992).

Como o segmento alvo deste trabalho são as oclusivas, a consoante da seqüência CV foram as oclusivas surdas /p/, /t/ e /k/, como no trabalho de MORAES & WETZELS (1992).

Para meios de comparações, o corpus gravado contou, também, com dissílabos com sílaba aberta, com a estrutura CV.CV.

Assim, o corpus contou com uma grupo de 12 palavras, conforme mostra quadro 1 abaixo:

Quadro 1 – Constituição do corpus

Estrutura da sílaba antecedente à oclusiva

Oclusivas

/p/

/t/

/k/

CV: Sílaba aberta

Capa

Cata

Maca

CVC: Sílaba fechadaa por /N/l

Campa

Canta

Manca

CVC: Sílaba fechada com /R/

Carpa

Carta

Marca

CVC: Sílaba fechada por /S/

Caspa

Casta

Masca

Gravação do corpus

Para a gravação do corpus, as palavras do quadro 1 acima foram inseridas na frase veículo “Digo __________baixinho” com o intuito de homogeneizar o ambiente fonético das palavras. As frases veículos foram impressas em fonte 51 em cartões brancos de 21x10 cm de tamanho para que o informante pudesse ter uma boa visualização das frases impressas nos cartões, que lhes foram apresentados de forma aleatória com um intervalo de aproximadamente 30 segundos entre um cartão e outro.

As gravações foram realizadas em cabina acusticamente tratada. Cada frase veículo foi gravada em três repetições aleatorizadas, em taxa de locução normal, por um informante do sexo masculino com perfeita dicção.

Digitalização

A digitalização consiste no processo de conversão de um sinal analógico para a forma digital, permitindo, dessa forma, obter qualquer tipo de medida (KENT & READ, 1992). Assim, cada repetição da frase gravada foi digitalizada a uma taxa de amostragem de 22 kHz, no Computerized Speech Lab (CSL) modelo 4300B da Kay Elementrics.

Parâmetros mensurados

Frente aos objetivos propostos neste trabalho, foram medidas as durações da vogal em sílaba aberta, do segmento vogal+consoante trava e da oclusiva tanto depois da sílaba aberta, quanto depois da sílaba travada.

Obtenção das medidas

As medidas de cada uma das repetições foram feitas a partir da forma de onda da palavra sincronizada a sua imagem espectrográfica, usando-se o software Multi Speech.

Ponto de Medida

Foi medido o intervalo de realização dos segmentos /a/ da sílaba aberta, do segmento /a/+consoante trava e finalmente do segmento consonantal. Foi considerado intervalo de realização o início e o fim do segmento, identificados na forma de onda através da mudança no padrão dos picos característico de cada segmento. Para maior segurança trabalhou-se com a janela da forma de onda sincronizada ao respectivo espectrograma de banda larga, que, segundo KENT & READ (1992), é ideal para obtenção de medidas de duração, por apresentar mais nitidamente a transição de um elemento para outro.

Para evitar erro de medida, cada segmento foi medido três vezes, e foi considerada na análise a média final dessas medidas.

ANÁLISE DOS DADOS

Para a análise dos dados foi usado o teste estatístico t de "Student" do aplicativo Statitica 5.0. Esse teste é empregado para comparar médias de duas amostras, verificando-se se há diferença significativa entre elas (BEIGUELMAN, 1994). Dessa forma, o teste foi aplicado com o intuito de se certificar se as diferenças das médias dos segmentos em questão da sílaba aberta e da sílaba fechada são significativas entre si, ou ainda, se as médias dos segmentos da sílaba travada por nasal e da sílaba travada pelas demais consoantes também apresentam diferença significativa entre si. A diferença entre as médias foi considerada significativa para p<0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

MORAES & WETZELS (1992) encontram um resultado interessante: a oclusiva torna-se mais curta quando precedida por uma sílaba travada por nasal. O mesmo resultado não é encontrado para a fricativa, indicando que a redução encontrada é peculiar às oclusivas. Os resultados encontrados neste trabalho apontam justamente nesta direção.

A tabela 1 mostra os valores de p, para as médias das vogais oral e nasal antes de oclusiva, os valores de p para as médias das oclusivas depois das vogais oral e nasal e valores de p para as médias da soma desses segmentos:

Tabela 1 – Duração média em ms dos segmentos [a]/[a]+N, da oclusiva e dos segmentos [a]+oclusiva/[a]+N + oclusiva das palavras capa, campa, cata, canta, maca, manca, caspa e respectivos p.

Duração (ms) 1

Duração (ms)

Segmentos

Capa

campa

p

Cata

canta

p

Maca

Manca

p

a/a+N

99

126

0,002 s*

99

128

0,009 s*

116

145,66

0,004 s*

Oclusiva

80,33

60

0,02 s

92,33

59,33

0,003 s

71,66

59

0,037 s

a+oclusiva/a+N+oclusiva

179,33

186

0,006 s

191,33

187,33

0,039 s

187,66

204,66

0,034 s

* significativo - p<0,05

Obs: 1 = Média final resultante de três medidas de cada uma das três repetições

Como se observa, todos os valores de p são significativos, o que permite afirmar que parte dos resultados encontrados neste trabalho vão ao encontro dos resultados encontrados por MORAES & WETZELS (1992). Como atestam os valores de p<0,05, de fato, as vogais nasais são mais longas que as vogais orais correspondentes, independente da oclusiva seguinte.

Também os valores de p para as médias das oclusivas mostram que há uma diferença significativa entre as oclusivas subseqüentes às vogais oral e nasal. As oclusivas, como apresenta a tabela 1, são mais curtas depois da vogal nasal, como os resultados encontrados por MORAES & WETZELS (1992).

No entanto, diferentemente do que foi encontrado pelos autores, a soma do segmento vogal oral+oclusiva não é igual a soma do segmento vogal nasal+oclusiva, sendo o segmento da vogal nasal maior que o da oral.

Quando se comparam os segmentos da palavra com sílaba aberta com os segmentos das sílabas travas pelas consoantes /R/ e /S/, como apresentado, respectivamente, nas tabelas 2 e 3, encontramos os mesmos resultados quando a sílaba é travada por nasal.

Tabela 2 – Duração média em ms dos segmentos [a]/[a]+R, da oclusiva e dos segmentos [a]+oclusiva/[a]+R + oclusiva das palavras capa, carpa, cata, carta, maca, marca e respectivos p.

Duração (ms) 1

Duração (ms)

Segmentos

Capa

carpa

P

cata

Carta

p

Maca

marca

p

a/a+R

99

138,33

0,006 s

99

152,33

0,007 s

116

164,66

0,002 s

Oclusiva

80,33

64,33

0,024 s

92,33

58

0,001 s

71,66

64

0,049 s

a+oclusiva/a+R+oclusiva

179,33

202,66

0,008 s

191,33

210,33

0,027 s

187,66

228,66

0,003 s

* significativo - p<0,05

Obs: 1 = idem tabela anterior

Tabela 3 – Duração média em ms dos segmentos [a]/[a]+S, da oclusiva e dos segmentos [a]+oclusiva/[a]+S + oclusiva das palavras capa, caspa, cata, casta, maca, masca e respectivos p.

Duração (ms) 1

Duração (ms)

Segmentos

Capa

caspa

p

cata

casta

p

Maca

masca

p

a/a+S

99

134,33

0,001 s

99

158

0,004 s

116

191,33

0,002 s

Oclusiva

80,33

67

0,028 s

92,33

67,33

0,025 s

71,66

57

0,03 s

a+oclusiva/a+S+oclusiva

179,33

201,33

0,035 s

191,33

225.33

0,005 s

187,66

248,33

0,003 s

* significativo - p<0,05

Obs: 1 = idem tabela anterior

As tabelas 2 e 3 mostram que, como ocorrem nas nasais, as oclusivas tendem a se tornar mais curtas quando vêm precedidas de uma sílaba fechada, travada, quer por /R/ quer por /S/, indistintamente. Muito embora a oclusiva seja menor depois da sílaba travada por consoante, a soma total do segmento a+S ou R+oclusiva é maior do que o segmento a+oclusiva. Isto é facilmente previsto já que a seqüência a+R ou S, como a seqüência a+N é maior que a vogal em sílaba aberta, evidenciando a existência de um elemento com duração própria, sem qualquer alongamento compensatório. Assim, não se pode pensar que a oclusiva ceda duração para o alongamento da vogal de sílaba fechada, como propunha MORAES & WETZELS (1992), que encontraram duração do a+oclusiva=a+C+oclusiva.

Os resultados encontrados sugerem que o encurtamento da oclusiva quando precedida por uma sílaba travada seja decorrente do fenômeno de micro-prosódia, entendida como a duração inerente a um determinado segmento (MATEUS, 1990), neste caso, oclusivas surdas, em um ambiente fonético particular, qual seja, subseqüente a uma sílaba fechada por /N/, /R/ ou /S/.

A hipótese de que estamos diante de um fenômeno de micro-prosódia torna-se ainda mais forte quando se comparam as médias dos segmentos da sílaba travada por nasal com as médias dos segmentos da sílaba travada por /R/ ou /S/, como se observa nas tabelas 4, 5 e 6.

Tabela 4– Duração média em ms dos segmentos aN/[a]+consoante, do segmento [p] e dos segmentos aN+p/[a]+consoante+[p] das palavras campa, carpa, caspa e respectivos p.

Duração (ms) 1

Duração (ms)

Segmentos

Campa

carpa

p

campa

caspa

P

aN/a+C

126

138,33

0,038 s*

126

134,33

0,010 s

P

60

64,33

0,44 ns**

60

67

0,23 ns

aNp/a+C+p

186

202,66

0,034 s

188

201,33

0,003 s

* - significativo - p<0,05

**- não significativo – p>0,05

Obs: 1 = idem tabela anterior

Tabela 5 – Duração média em ms dos segmentos aN/[a]+consoante, do segmento [t] e dos segmentos aNt/[a]+consoante+[t] das palavras canta, carta, casta e respectivos p.

Duração (ms) 1

Duração (ms)

Segmentos

Canta

carta

P

canta

casta

P

aN/a+C

128

152,33

0,028 s*

128

158

0,010 s

T

59,33

58

0,233 ns**

59,33

67,33

0,226 ns

aNp/a+C+t

187,33

210,33

0,003 s

187,33

225.33

0,003 s

* - significativo - p<0,05

**- não significativo – p>0,05

Obs: 1 = idem tabela anterior

Tabela 6 – Duração média em ms dos segmentos aN/[a]+consoante, do segmento [k] e dos segmentos aNk/[a]+consoante+[k] das palavras manca, marca, masca e respectivos p

Duração (ms) 1

Duração (ms)

Segmentos

Manca

marca

p

manca

masca

P

na/a+C

145,66

164,66

0,04 s*

145,66

191,33

0,01 s

K

59

64

0,44 ns**

59

57

0,16 ns

aNp/a+C+k

204,66

228,66

0,03 s

204,66

248,33

0,03 s

* - significativo - p<0,05

**- não significativo – p>0,05

Obs: 1 = idem tabela anterior

Ao comparar as médias das oclusivas precedidas por sílaba travada por consoante nasal com as médias das oclusivas precedidas por sílabas travadas por /R/ ou /S /, tem-se nos dois casos p>0,05, o que quer dizer que não há diferença significativa entre as médias das oclusivas que vêm depois de /N/, /R/ ou /S/. Isto corrobora os dados apresentados nas tabelas anteriores.

Para os demais segmentos das palavras que têm nasal em posição de travamento silábico, observa-se diferença significativa em relação às médias das durações dos segmentos das palavras que têm /R/ e /S/ nesta mesma posição, indicando que esses outros segmentos possuem micro-prosódia diferentes. Somente as oclusivas possuem a mesma duração, homogeneizada em todos os casos pela sílaba fechada.

Pode-se perceber, então, que se por um lado há diferença significativa entre as médias das oclusivas precedidas por sílaba aberta e as médias das sílabas travadas por consoante, por outro, não se observa diferença quando se comparam as médias de duração das oclusivas depois de sílaba travada. Isto só nos mostra que, efetivamente, as oclusivas apresentam comportamento diferente depois de uma sílaba fechada, independente da consoante trava.

CONCLUSÕES

Os resultados encontrados neste trabalho mostram que as oclusivas no PB possuem uma micro-prosódia particular quando precedidas por sílabas travadas por qualquer consoante. Elas são mais curtas do que quando seguidas por sílabas abertas

Os dados, ainda preliminares, mostram que mesmo possuindo duração menor que a oclusiva precedente por sílaba aberta, a soma do segmento vogal nasal+oclusiva é maior que a soma do vogal oral mais oclusiva. Esses resultados são encontrados também quando a sílaba é travada por /R/ ou /S/.

Assim, se se tem sílaba travada+oclusiva > que sílaba aberta+oclusiva, não se pode, então, aceitar a hipótese de que a oclusiva ceda duração para a vogal. Trata-se na verdade de um processo de encurtamento, que é peculiar à oclusiva, o que nos permite pensar numa possível redução consonantal compensatória.

Dessa forma, a hipótese da natureza bifonêmica da vogal nasal torna-se mais consistente, já que se têm dois elementos com durações próprias que se somam.

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